Conversa entre dois ceninhas - 2a Parte

Ceninha 1: Fodase vou atirar-me para o chão cheio de lama e minas e vou rebolar! Isto porque sou uma pessoa que quer querer, e quando estamos na presença de pessoas que querem querer, é outra coisa.

Ceninha 1: O pai preto ficou um pouco escandalizado pelo Jáka andar nessas andanças, o Jáka que era menino de coro! No entanto, com o passar do tempo, viu que entre o reguinho pelado do Jáka e a betoneira de massa da Ti Rosa, de léguas o melhor era a padaria quente da Cornélia, mulher solteirona que ele já andava a fisgar desde o dia em que assaltou a sua mansão no bairro da Boavista. (continua)

Ceninha 1: A Cornélia é o sonho de qualquer homem: perna arqueada e com pelo a partir da cintura, bigode farto, lábios rosados do vinho da casa, dois dentes em toda a boca e são apenas os de trás (neste caso o Manél Crioulo até agradece porque é da maneira que a Cornélia bebe o leite todo e não suja a carpete) e bucetinha farfalhuda com restos de papel toalhete seco. (continua)

Ceninha 1: Por isso não foi de estranhar que o ordenado de 25€ do pai preto se estoura-se todo com essa rameira solteirona (pai preto já foi um homem respeitado, já chegou a ganhar 30€ de ordenado, numa mina de gás em Canedo, agora toda a gente lhe caga em cima). Por seu lado, Cornélia no seu íntimo não ama pai preto, apenas gosta de destruir lares. Ela diverte-se a ver pai preto a estourar o seu dinheiro em vinho para ela beber, gosta que ele chegue a casa tarde para a Ti Rosa lhe cascar em cima, mas acima de tudo, ela diverte-se quando o pai preto vem enraivecido do trabalho e lhe pede para pôr o menino a chorar pacotes de um litro de leite meio gordo da Parmalat.

Ceninha 2: Mas a Cornélia só faz isso porque a Ti Rosa fez o mesmo quando era nova! Ela tinha os seus 13 anos e trabalhava como empregada de limpeza (sim porque ela até limpava a prata da casa para depois ir vender para a feira de Espinho). E um dia o pai da Cornélia que era provador de vinho tinto daquele que pinta a caneca, vinha de mais um dia de trabalho e viu a Ti Rosa a esfregar o chão. (continua)

Ceninha 2: Ao ver aquilo o pai da Cornélia disse:
- "Que bela caverna para eu espetar o meu morcego! Se não fosses tão nova que tava a aviar cartucho!" Mas a Ti Rosa explicou que não havia problema porque quando os ciganos são pequenos, a idade conta-se como nos cães! Ou seja, ela tinha 13 anos mas pelo calendário cigano tinha 26! Por isso é que eles casam cedo. Então sendo assim, o pai da Cornélia espetou e nunca mais se esqueceu desse dia! Até apontou num papel:
- "Dia tal, fodi uma cigana num quarto escuro." (continua)

Ceninha 2: E aquilo marcou-o de tal maneira que decidiu deixar a sua fortuna toda à Ti Rosa! Como agradecimento daqueles fantásticos 35 segundos de prazer. E a Ti Rosa não sabe que está milionária à custa do pai da Cornélia que infelizmente um ano depois faleceu. (continua)

Ceninha 2: E faleceu como já era de prever por causa do vinho! Não por o ter bebido em doses industriais mas sim porque um dia estava nas caves do Sandeman, a trabalhar de copo na mão e foi atropelado por um pipo de vinho tinto maduro! Dizem as testemunhas que o homem só teve tempo de dizer quando viu o pipo a ir na sua direcção: - "É pá, tragam-me ao menos um pão com chouriço..."

Ceninha 1: Bem, pelo menos tentei. Eu sabia que o chão estava minado e mesmo assim atirei-me. Estavam lá dois pitbulls e fiquei sem os dois braços, enquanto tu sais-te de lá a rir-te de mim. Ganhaste hoje mas amanhã és tu que vais lamber o chão.